Queima Luz

O Tenebrismo do Efêmero de SMEKATZ
Como Caravaggio esculpia santos e pecadores com golpes de luz, Smekatz incendeia o presente. Seja no papel, na tela ou no espaço, seu fogo é um pincel impaciente — não ilumina, consome. Cada chama acesa é um chiaroscuro em tempo real, um clarão que rasga o escuro para revelar no instante em que a luz morre.
Enquanto os mestres barrocos congelavam o divino em tinta, Smekatz caça o contrário: a presentificação do fugaz. Seus traços de fuligem não são registros, mas fantasmas de um fogo que já se apagou. A obra não existe no que permanece, mas no que já se foi — como um relógio de fumaça marcando o agora.
A superfície é o corpo do tempo.
As labaredas, marcas do efêmero.
A escuridão — mas uma escuridão ferida pela memória da luz.
Aqui, o artista não pinta o drama: ele o vive. E nos obriga a perguntar: quanto dura um presente? O tempo de um fósforo aceso? O tempo de uma sombra queimada se dissolver no ar?
Smekatz trabalha com a ansiedade do agora — seu gesto não documenta, sequestra o instante. A queima é o rito, a fuligem é o relicário. E nós, testemunhas, ficamos com o paradoxo: como olhar para o que já virou cinza como se ainda ardesse?!
O presente é verbo!